sexta-feira, 8 de maio de 2009

As tais assistências técnicas

Tem uma empresa que me atende há anos, quando tenho problemas com os "brancos", isto é, máquina de lavar, de secar, de lavar louças, geladeira etc. Há cerca de um ano paguei um montão para que trocassem a moto-bomba (esse negócio de hífen ainda não está claro para mim) da minha máquina de lavar louças, que não estava soltando a água. Ficou mais ou menos. Até que, ultimamente, a máquina ficava tão cheia de água que quase vazava. Liguei. E
e bom dar os nomes aos bois: Assistência Técnica Brastemp Breves. Por telefone mesmo, o técnico, quase íntimo, me falou:
- Ah, vai ter de trocar de novo. Fica em R$ 428,00.
Só faltou me dar os centavos... orçamento corretíssimo, sem exame. É muito caro, retruquei, pensando na minha mísera aposentadoria, que é três vezes isso.
- Ah (sempre o Ah! no início da frase), é que as peças são caras, muito caras.
Muito bem, e eu eu comprar a tal de moto-bomba?
- Ah, então a minha mão de obra fica em R$ 120,00 para a colocação.
Chamei uma outra assistência técnica. Veio, abriu, olhou, ligou, desligou umas três vezes e declarou:
- Precisa trocar a moto-bomba. Fica em R$ 485,00.
Despachei e voei para a loja que vende a peça. Uma moto-bomba custa R$ 263,00. Bom. Mas, muito atenciosa, a moça que me atendeu (e é bom dar os nomes: Rosângela, Pinheiros Distribuidora de Peças, rua Pinheiros, 364, fone 3064.8886) me colocou, no orçamento, todas as pecinhas complementares, tipo caxeta, relê, alojamento, protetor. Tudo como se fosse grego. E eu lá sei se precisaria disso tudo, que, no total, somava R$ 421,71? (agora com centavos...) Perguntei: e como é que alguém me cobra 428 e outro 485?
Eles usam peças recauchutadas, disse Rosângela.
Voltei pra casa com o orçamento em mãos. Chamei, pela primeira vez, o Porto Seguro/casa/brancos. O técnico veio, abriu, fechou, pediu um balde, ligou, desligou, desconectou a mangueira, cortou-a e me chamou: veja: estava entupida.
Então vou comprar outra mangueira.
Não, não precisa. Tem um isqueiro?
Amoleceu o plástico, colocou de volta a válvula e o problema estava resolvido. Dei-lhe um café, agradeci sobremaneira e passei o resto do dia de mau humor por já ter gasto tanto com essa gente que só pensa em nos enganar.
Recomendo: seguro de carro, só com a Porto Seguro.

Sábado à noite

O que você faz quando você tem um olho com rímel e o outro sem? Nesse meio tempo, toca o celular: olha, o programa pifou. Tou indo pra casa.
Eu tinha acabado de chegar. Fui ver Entre os Muros da Escola, típico cinema europeu, projeção digital - e olha que eu nem me dei conta disso, me pareceu igualzinho aos outros... - , de lá entrei na Temakeria que a fome estava chegando, pedi um saquê, abri meu livro, fui tomando e lendo e quando percebi que a cabeça já estava meio zonza, solicitei o temaki.
Cheguei em casa bem animadinha. Toca o celular: onde você está? Em casa, acabei de chegar, mas posso sair imediatamente. Você já comeu? Já. Mas como de novo, isso não é problema. E, se não comer, tomo alguma coisa. Ou seja, não será por falta de companhia que a noite de sábado não contará conosco. Então vamos pra uma massa, que minha filha já comeu japa ontem.
Corri para o banheiro, pra passar algo nessa face mal passada. Estou com rímel em um dos olhos, toca o celular:
- Mãe, qual é o melhor lado, pra ver as praias, de um voo SP-RJ?
- O esquerdo, minha filha.
Desligo. Toca de novo. Nossa, pensei, será que dará tempo de colocar rímel no outro olho?
É, desculpe, o programa pifou. Minha filha (a dela) está de bode. Tou indo pra casa.
E o que é que eu faço com esse rímel num dos olhos?
Tire.
Fiz o contrário: pintei o outro, abri uma cerveja e vim escrever.

sábado, 2 de maio de 2009

Dono de bar

Eram muitas as reuniões. Café. Mais café. Chama fulano. Beltrano tá aí. Coisas, coisinhas e coisões a fazer e resolver. E o chefe pressionando. E o chefe do chefe esbravejando. O prazo atrasado. Aparentemente (ou certamente) as pessoas corriam para apagar o fogo. Planejamento? Cadê o planejamento? Você já fez aquilo que eu mandei? Ainda não deu tempo? pois corra porque o diretor está pedindo. AGORA!!!
No final da tarde, os ombros caídos, a auto-estima rolando no chão, a gente sonhava: ah, vai chegar o dia em que eu mando tudo pros quintos dos infernos. E me mando pro Nordeste. Vou precisar de um par de havaianas, meia dúzia de camisetas, duas bermudas. E vou vender caipirinha na praia. Talvez uns sandubas naturais...
O estresse todo passou. Hoje, tenho algunS (vejam o tamanho do S) amigos que, se não fizeram isso, chegaram perto: abriram um bar. Não trabalham de havaianas, mas os tênis de hoje são bastante confortáveis. Apenas um trabalha de bermuda, quando faz calor. E, sim, usam camisetas. Vendem caipirinhas, sanduíches, peixe frito, camarão, bolinho de bacalhau, cerveja e uísque, entre tantos e tantos comes e bebes.
O que dizem?
Eu já estou de saco cheio. Abro às 18h30 e tem dia que saio daqui às 5 da manhã. No dia seguinte, estou pregado, não consigo nem sair da cama. E tem de enrolar bolinho, temperar o peixe, limpar o camarão, varrer o salão, colocar as mesas, comprar bebidas. Ah, não sei, não, estou pensando em largar tudo isso, não tenho final de semana para curtir a família, ando bebendo mais do que devia e por aí vai...
Bem, eu estou começando agora, mas é fogo, viu? tem de fazer a freguesia, já trocamos os garçons e garçonetes pra melhorar o serviço, uma noite vem o fiscal do Psiu, na outra vem outro dizer que não pode isso e não pode aquilo. Agora vou ter de mudar a razão social pra colocar Tabacaria, porque não dá pra não fumar. Ficamos bolando o dia inteiro campanhas e promoções, enfim, um trabalho do cão.
Eles tentaram fazer do sonho, um naco da realidade. Continuam lutando, aprendendo, sobrevivendo, agora sem o estresse do chefe gritando na orelha.
Por mim, aprendi com eles: deito a hora que tenho sono, me levanto junto com o sol, faço minhas caminhadas, pedalo a bicicleta, leio um livro à tarde, ou vejo um filme e, sem culpa nenhuma, estou curtindo a vida sossegada. Que me perdoem, meus amigos, nada contra, muito pelo contrário, mas eu deixei os sonhos de lado.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Probleminhas domésticos

Não levo jeito com eletricidade. Nessa parte, apenas troco lâmpadas e consigo consertar interruptores de luz.
No resto, dou um jeito. Nunca, ou quase nunca, é um jeito muito bom, desses serviços profissionais que ficam uma beleza. Ah, não, os meus consertos são mais toscos. Por exemplo: furei a parede do banheiro e instalei quatro prateleiras de vidro fosco. Nenhuma das quatro ficou perfeitamente reta com relação ao teto e ao piso. E olha que eu medi milímetros!!! Mas estão lá, bonitinhas e ninguém repara na torteza. Mesmo porque ninguém frequenta meu banheiro, a não ser a empregada, para a limpeza. E se, por acaso, alguma visita entra lá, quero crer que não fica procurando por penugens como essa.
É que qualquer visitinha desses caras que fazem de tudo na sua casa não sai por menos de cinquenta. Cinquenta aqui, cinquenta lá, lá se foi a minha aposentadoria. Não dá.
Estou com um problema sério com tomadas de luz. Desliguei a chave geral, abri duas delas, apertei os fios, estava tudo normal, mas não funcionam com rádio-relógio. Já troquei dois deles, pensando em defeito de fabricação. O último que comprei já foi para a assistência técnica duas vezes. E o que dizem é sempre isso: não tem nada, está perfeito. Acerto as horas, apago a luz. Pela manhã, quando acordo, o sol nem saiu e o relógio marca 11h. Ou seja, adianta, atrasa ao seu bel prazer. Estou na fase de teste de tomadas. Já descobri que, no banheiro, o relógio funciona. Mas o que é que faço com um rádio-relógio no banheiro, já que eu mesma canto debaixo do chuveiro?
Hoje abri a máquina de lavar louças, que já tem quase 20 anos e está com muitos pontos de ferrugem. Passei zarcão - se não me engano, é esse o nome daquela tinta vermelha. Metade do meu corpo estava dentro da máquina. Quando dei por mim, senti uns pingos: lá se foi minha blusa. Mas de onde estava pingando? Ah, não! Do meu cabelo!!!, que, sem perceber, entrara dentro da lata. Não teve outro jeito: enfie metade de minha cabeça numa tina de água ráz, com minha filha berrando para eu cortar a mecha vermelha e grudada.
Lavei, muito shampoo, creme aos montes. Amanhã terei o resultado.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"O coveiro já estava me beijando"

Adoro palavras. A ponto de amá-las (como beija-flor) ou odiá-las (como espingarda). Consequentemente, adoro frases bem feitas, espirituosas, bem ou mal humoradas. E invejo intensamente, como passional que sou, aqueles que têm o dom de formulá-las.
Acho que Nana Caymmi mereceria constar de ao menos um livro dessas frases famosas eventualmente publicados por aí. É ela a autora da que dá título a este texto.
Que me perdoem, mas muito mais do que sua voz ou sua interpretação, gosto é do seu palavreado sem fronteiras e extremamente ácido, com os outros e, principalmente, consigo mesma. Vejam o contexto de onde brotou essa pérola:
"Não foi fácil enterrar pai e mãe, ficar fazendo footing no cemitério. Pensei: 'vou sentar aqui para ver se tem mais um freguês'. O coveiro já estava me beijando"(Ilustrada, Folha SP, 20/04/09).
Já tive grandes discussões com Vicente Alessi, meu colega que não perdoa o reacionarismo de Nelson Rodrigues, por quem, tardiamente, me apaixonei. Sim, ele é reacionário. E eu tive a pachorra de ler toda - TODA - a sua obra, da qual meu amigo Vic foge como o diabo da cruz. Na minha modesta (?) opinião, acima de seu reacionarismo, estava a defesa incondicional da vida humana e, na dramaturgia, a busca do escatológico do ser humano, no sentido de nos alertar para a existência dessa possibilidade em nós mesmos. Minto: não li TODA a sua obra: não consegui suportar os folhetins assinados por Mirna e Suzana Flag, nos quais se morre, literalmente, por amor. Também não posso afirmar que tenha gostado de tudo o que ele escreveu e que tenha concordado com a maioria de suas peças, opiniões e crônicas diárias.
Porém, como frasista, ele foi insuperável. Divirtam-se com algumas, politicamente incorretas ou não:

Invejo a burrice, porque é eterna.

Sou sóbrio por vocação, destino e desgraça.

Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo. (Mais atual, impossível!)

O casamento é divertido como um túmulo.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

Meus diálogos são realmente pobres. Só eu sei o trabalho que me dá empobrecê-los.

Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.

A família é o inferno de todos nós.

Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos.

Qualquer indivíduo é mais importante do que toda a Via Láctea.

A inteligência pode ser acusada de tudo, menos de santa.

Acho a liberdade mais importante do que o pão.

Não acredito em brasileiros sem erro de concordância.

O homem é mais fiel ao seu ódio do que ao seu amor.

Nossa vida é a busca desesperada de um ouvinte.

domingo, 19 de abril de 2009

A mais nova novela brasileira - já em exportação

Gargalhei. Em meio a tanta safadeza de deputados e senadores - a indignação nacional é algo perene e eu não consigo mais achar em quem ou em qual partido votar - a foto que a Folha de São Paulo estampa hoje na metade inferior da capa provocou-me um acesso de riso incontrolável, para espanto dos desconhecidos que estavam ao meu lado.
Para quem não viu, explico: a foto oficial da Cúpula das Américas mostrava, ao centro superior, Obama sorrindo, lançando um olhar para o Lula, de cabeça meio baixa ao lado de um sorridente Morales. A legenda destaca o objeto da observação do presidente norte-americano: o nosso Lula.
A partir da tradução do "That`s my man", que gerou capas e manchetes internacionais, venho acompanhando essa nova novelinha brasileira, das mais engraçadas dos últimos tempos.
Pois não foi engraçado ver o Lula, oriundo do sertão de Garanhuns, sentado ao lado da Rainha da Inglaterra? Pois eu, como tantos, também acho que o nosso príncipe Fernando está se mordendo de inveja e ciúme.
Está certa a Bárbara Gancia quando diz que o Lula deve ter se instalado naquela cadeira, dado uma de "joão-sem-braço" já que não entende nada de inglês e ninguém ousou tirá-lo de lá. E lá ficou, registrado na foto ao lado de Elizabeth II.
E, no capítulo de hoje, o que me provocou a gargalhada foi que eu imaginei um final feliz para ambos: com direito a beijinho no final. E, se os coleguinhas não vacilarem, cabe até um The End por cima.

domingo, 29 de março de 2009

Manhã no Parque

Tomei o café, acendi o cigarro, coloquei os óculos na ponta do nariz e abri o jornal. A manhã estava gostosa, cheia de verdes ao meu redor, o sol querendo aparecer e os passarinhos ciscando ao redor das mesas, na busca de farelos de pão.
- Oi, posso ler o jornal com você?
Como? Como assim? Ler o jornal comigo?
- É. É que eu achei muito bonito você ler o jornal.
Hein? Que é que é isso? Você quer uma parte do jornal, é isso?
- Não, eu não tenho o costume de ler jornal, sabe?, mas é que achei muito bonito.
Tirei os óculos, joguei-os sobre a mesa e encarei um rapaz com menos idade do que o meu filho, com os cabelos compridos e um boné enfiado na metade da cabeça.
- Posso me sentar?
Pode, com todo o meu espanto. Olhei de esguelha, de onde ele viera. Fora de uma mesa além da minha, onde havia outros dois rapazes e um litro de uísque com menos da metade. Olhei meu relógio: 8h15 da manhã. Viiiiiixê, seria uma balada emendada ou alcoólatras que costumam tomar café da manhã à base de uísque?
- Sabe, eu sou de livros, gosto de ler livros.
Sei. Quais?
- Ah, assim, Machado (íntimo... interessante)
Quem mais?
- Bem, outros, quaisquer outros, gosto muito de livros.
Sei.
- Você gosta de ler jornal, não?
Sim, como se pode ver, eu leio jornais.
- Eu não gosto não, mas, como disse, achei muito bonito. Me formei em publicidade, trabalhava na loja do meu pai e larguei porque quero seguir em algo na minha área.
Sei.
- Mas não gostei do curso, achei que não atendeu àquilo que eu queria, porque queria áudio-visual, sabe? Sou vidrado nisso. E você, o que faz?
Eu leio jornais, sou jornalista.
- E como é que se lê jornais?
Você está pedindo uma aula?
- Estou.
E quanto vai pagar por isso?, gargalhei.
- É que você tem jeito de professora. Desculpe eu perguntar, mas qual é a sua idade?
57 longos anos vividos. E nem assim o rapaz desistiu. Ficou naquele papo furado sem o menor sentido. Acendi outro cigarro e ofereci. Ele aceitou, dizendo:
- Eu não fumo, não. Mas vou fumar agora.
Ó, céus, o que é que essa incongruência aparentemente humana está fazendo na minha mesa?
Olha, essa parte do jornal eu já li. Leve para você, quem sabe você começa a gostar. Ah, tem quadrinhos, acho que faz mais o seu gênero. E agora, por favor, me deixe terminar de ler?
- Ah, claro!
Me deu um beijo, agradeceu pelo jornal e saiu, sem cambalear.
Isso foi uma cantada ou apenas uma bebedeira?
Fiquei sem saber. E não me incomodei mais com isso.