sexta-feira, 8 de maio de 2009

As tais assistências técnicas

Tem uma empresa que me atende há anos, quando tenho problemas com os "brancos", isto é, máquina de lavar, de secar, de lavar louças, geladeira etc. Há cerca de um ano paguei um montão para que trocassem a moto-bomba (esse negócio de hífen ainda não está claro para mim) da minha máquina de lavar louças, que não estava soltando a água. Ficou mais ou menos. Até que, ultimamente, a máquina ficava tão cheia de água que quase vazava. Liguei. E
e bom dar os nomes aos bois: Assistência Técnica Brastemp Breves. Por telefone mesmo, o técnico, quase íntimo, me falou:
- Ah, vai ter de trocar de novo. Fica em R$ 428,00.
Só faltou me dar os centavos... orçamento corretíssimo, sem exame. É muito caro, retruquei, pensando na minha mísera aposentadoria, que é três vezes isso.
- Ah (sempre o Ah! no início da frase), é que as peças são caras, muito caras.
Muito bem, e eu eu comprar a tal de moto-bomba?
- Ah, então a minha mão de obra fica em R$ 120,00 para a colocação.
Chamei uma outra assistência técnica. Veio, abriu, olhou, ligou, desligou umas três vezes e declarou:
- Precisa trocar a moto-bomba. Fica em R$ 485,00.
Despachei e voei para a loja que vende a peça. Uma moto-bomba custa R$ 263,00. Bom. Mas, muito atenciosa, a moça que me atendeu (e é bom dar os nomes: Rosângela, Pinheiros Distribuidora de Peças, rua Pinheiros, 364, fone 3064.8886) me colocou, no orçamento, todas as pecinhas complementares, tipo caxeta, relê, alojamento, protetor. Tudo como se fosse grego. E eu lá sei se precisaria disso tudo, que, no total, somava R$ 421,71? (agora com centavos...) Perguntei: e como é que alguém me cobra 428 e outro 485?
Eles usam peças recauchutadas, disse Rosângela.
Voltei pra casa com o orçamento em mãos. Chamei, pela primeira vez, o Porto Seguro/casa/brancos. O técnico veio, abriu, fechou, pediu um balde, ligou, desligou, desconectou a mangueira, cortou-a e me chamou: veja: estava entupida.
Então vou comprar outra mangueira.
Não, não precisa. Tem um isqueiro?
Amoleceu o plástico, colocou de volta a válvula e o problema estava resolvido. Dei-lhe um café, agradeci sobremaneira e passei o resto do dia de mau humor por já ter gasto tanto com essa gente que só pensa em nos enganar.
Recomendo: seguro de carro, só com a Porto Seguro.

Sábado à noite

O que você faz quando você tem um olho com rímel e o outro sem? Nesse meio tempo, toca o celular: olha, o programa pifou. Tou indo pra casa.
Eu tinha acabado de chegar. Fui ver Entre os Muros da Escola, típico cinema europeu, projeção digital - e olha que eu nem me dei conta disso, me pareceu igualzinho aos outros... - , de lá entrei na Temakeria que a fome estava chegando, pedi um saquê, abri meu livro, fui tomando e lendo e quando percebi que a cabeça já estava meio zonza, solicitei o temaki.
Cheguei em casa bem animadinha. Toca o celular: onde você está? Em casa, acabei de chegar, mas posso sair imediatamente. Você já comeu? Já. Mas como de novo, isso não é problema. E, se não comer, tomo alguma coisa. Ou seja, não será por falta de companhia que a noite de sábado não contará conosco. Então vamos pra uma massa, que minha filha já comeu japa ontem.
Corri para o banheiro, pra passar algo nessa face mal passada. Estou com rímel em um dos olhos, toca o celular:
- Mãe, qual é o melhor lado, pra ver as praias, de um voo SP-RJ?
- O esquerdo, minha filha.
Desligo. Toca de novo. Nossa, pensei, será que dará tempo de colocar rímel no outro olho?
É, desculpe, o programa pifou. Minha filha (a dela) está de bode. Tou indo pra casa.
E o que é que eu faço com esse rímel num dos olhos?
Tire.
Fiz o contrário: pintei o outro, abri uma cerveja e vim escrever.

sábado, 2 de maio de 2009

Dono de bar

Eram muitas as reuniões. Café. Mais café. Chama fulano. Beltrano tá aí. Coisas, coisinhas e coisões a fazer e resolver. E o chefe pressionando. E o chefe do chefe esbravejando. O prazo atrasado. Aparentemente (ou certamente) as pessoas corriam para apagar o fogo. Planejamento? Cadê o planejamento? Você já fez aquilo que eu mandei? Ainda não deu tempo? pois corra porque o diretor está pedindo. AGORA!!!
No final da tarde, os ombros caídos, a auto-estima rolando no chão, a gente sonhava: ah, vai chegar o dia em que eu mando tudo pros quintos dos infernos. E me mando pro Nordeste. Vou precisar de um par de havaianas, meia dúzia de camisetas, duas bermudas. E vou vender caipirinha na praia. Talvez uns sandubas naturais...
O estresse todo passou. Hoje, tenho algunS (vejam o tamanho do S) amigos que, se não fizeram isso, chegaram perto: abriram um bar. Não trabalham de havaianas, mas os tênis de hoje são bastante confortáveis. Apenas um trabalha de bermuda, quando faz calor. E, sim, usam camisetas. Vendem caipirinhas, sanduíches, peixe frito, camarão, bolinho de bacalhau, cerveja e uísque, entre tantos e tantos comes e bebes.
O que dizem?
Eu já estou de saco cheio. Abro às 18h30 e tem dia que saio daqui às 5 da manhã. No dia seguinte, estou pregado, não consigo nem sair da cama. E tem de enrolar bolinho, temperar o peixe, limpar o camarão, varrer o salão, colocar as mesas, comprar bebidas. Ah, não sei, não, estou pensando em largar tudo isso, não tenho final de semana para curtir a família, ando bebendo mais do que devia e por aí vai...
Bem, eu estou começando agora, mas é fogo, viu? tem de fazer a freguesia, já trocamos os garçons e garçonetes pra melhorar o serviço, uma noite vem o fiscal do Psiu, na outra vem outro dizer que não pode isso e não pode aquilo. Agora vou ter de mudar a razão social pra colocar Tabacaria, porque não dá pra não fumar. Ficamos bolando o dia inteiro campanhas e promoções, enfim, um trabalho do cão.
Eles tentaram fazer do sonho, um naco da realidade. Continuam lutando, aprendendo, sobrevivendo, agora sem o estresse do chefe gritando na orelha.
Por mim, aprendi com eles: deito a hora que tenho sono, me levanto junto com o sol, faço minhas caminhadas, pedalo a bicicleta, leio um livro à tarde, ou vejo um filme e, sem culpa nenhuma, estou curtindo a vida sossegada. Que me perdoem, meus amigos, nada contra, muito pelo contrário, mas eu deixei os sonhos de lado.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Probleminhas domésticos

Não levo jeito com eletricidade. Nessa parte, apenas troco lâmpadas e consigo consertar interruptores de luz.
No resto, dou um jeito. Nunca, ou quase nunca, é um jeito muito bom, desses serviços profissionais que ficam uma beleza. Ah, não, os meus consertos são mais toscos. Por exemplo: furei a parede do banheiro e instalei quatro prateleiras de vidro fosco. Nenhuma das quatro ficou perfeitamente reta com relação ao teto e ao piso. E olha que eu medi milímetros!!! Mas estão lá, bonitinhas e ninguém repara na torteza. Mesmo porque ninguém frequenta meu banheiro, a não ser a empregada, para a limpeza. E se, por acaso, alguma visita entra lá, quero crer que não fica procurando por penugens como essa.
É que qualquer visitinha desses caras que fazem de tudo na sua casa não sai por menos de cinquenta. Cinquenta aqui, cinquenta lá, lá se foi a minha aposentadoria. Não dá.
Estou com um problema sério com tomadas de luz. Desliguei a chave geral, abri duas delas, apertei os fios, estava tudo normal, mas não funcionam com rádio-relógio. Já troquei dois deles, pensando em defeito de fabricação. O último que comprei já foi para a assistência técnica duas vezes. E o que dizem é sempre isso: não tem nada, está perfeito. Acerto as horas, apago a luz. Pela manhã, quando acordo, o sol nem saiu e o relógio marca 11h. Ou seja, adianta, atrasa ao seu bel prazer. Estou na fase de teste de tomadas. Já descobri que, no banheiro, o relógio funciona. Mas o que é que faço com um rádio-relógio no banheiro, já que eu mesma canto debaixo do chuveiro?
Hoje abri a máquina de lavar louças, que já tem quase 20 anos e está com muitos pontos de ferrugem. Passei zarcão - se não me engano, é esse o nome daquela tinta vermelha. Metade do meu corpo estava dentro da máquina. Quando dei por mim, senti uns pingos: lá se foi minha blusa. Mas de onde estava pingando? Ah, não! Do meu cabelo!!!, que, sem perceber, entrara dentro da lata. Não teve outro jeito: enfie metade de minha cabeça numa tina de água ráz, com minha filha berrando para eu cortar a mecha vermelha e grudada.
Lavei, muito shampoo, creme aos montes. Amanhã terei o resultado.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"O coveiro já estava me beijando"

Adoro palavras. A ponto de amá-las (como beija-flor) ou odiá-las (como espingarda). Consequentemente, adoro frases bem feitas, espirituosas, bem ou mal humoradas. E invejo intensamente, como passional que sou, aqueles que têm o dom de formulá-las.
Acho que Nana Caymmi mereceria constar de ao menos um livro dessas frases famosas eventualmente publicados por aí. É ela a autora da que dá título a este texto.
Que me perdoem, mas muito mais do que sua voz ou sua interpretação, gosto é do seu palavreado sem fronteiras e extremamente ácido, com os outros e, principalmente, consigo mesma. Vejam o contexto de onde brotou essa pérola:
"Não foi fácil enterrar pai e mãe, ficar fazendo footing no cemitério. Pensei: 'vou sentar aqui para ver se tem mais um freguês'. O coveiro já estava me beijando"(Ilustrada, Folha SP, 20/04/09).
Já tive grandes discussões com Vicente Alessi, meu colega que não perdoa o reacionarismo de Nelson Rodrigues, por quem, tardiamente, me apaixonei. Sim, ele é reacionário. E eu tive a pachorra de ler toda - TODA - a sua obra, da qual meu amigo Vic foge como o diabo da cruz. Na minha modesta (?) opinião, acima de seu reacionarismo, estava a defesa incondicional da vida humana e, na dramaturgia, a busca do escatológico do ser humano, no sentido de nos alertar para a existência dessa possibilidade em nós mesmos. Minto: não li TODA a sua obra: não consegui suportar os folhetins assinados por Mirna e Suzana Flag, nos quais se morre, literalmente, por amor. Também não posso afirmar que tenha gostado de tudo o que ele escreveu e que tenha concordado com a maioria de suas peças, opiniões e crônicas diárias.
Porém, como frasista, ele foi insuperável. Divirtam-se com algumas, politicamente incorretas ou não:

Invejo a burrice, porque é eterna.

Sou sóbrio por vocação, destino e desgraça.

Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo. (Mais atual, impossível!)

O casamento é divertido como um túmulo.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

Meus diálogos são realmente pobres. Só eu sei o trabalho que me dá empobrecê-los.

Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.

A família é o inferno de todos nós.

Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos.

Qualquer indivíduo é mais importante do que toda a Via Láctea.

A inteligência pode ser acusada de tudo, menos de santa.

Acho a liberdade mais importante do que o pão.

Não acredito em brasileiros sem erro de concordância.

O homem é mais fiel ao seu ódio do que ao seu amor.

Nossa vida é a busca desesperada de um ouvinte.

domingo, 19 de abril de 2009

A mais nova novela brasileira - já em exportação

Gargalhei. Em meio a tanta safadeza de deputados e senadores - a indignação nacional é algo perene e eu não consigo mais achar em quem ou em qual partido votar - a foto que a Folha de São Paulo estampa hoje na metade inferior da capa provocou-me um acesso de riso incontrolável, para espanto dos desconhecidos que estavam ao meu lado.
Para quem não viu, explico: a foto oficial da Cúpula das Américas mostrava, ao centro superior, Obama sorrindo, lançando um olhar para o Lula, de cabeça meio baixa ao lado de um sorridente Morales. A legenda destaca o objeto da observação do presidente norte-americano: o nosso Lula.
A partir da tradução do "That`s my man", que gerou capas e manchetes internacionais, venho acompanhando essa nova novelinha brasileira, das mais engraçadas dos últimos tempos.
Pois não foi engraçado ver o Lula, oriundo do sertão de Garanhuns, sentado ao lado da Rainha da Inglaterra? Pois eu, como tantos, também acho que o nosso príncipe Fernando está se mordendo de inveja e ciúme.
Está certa a Bárbara Gancia quando diz que o Lula deve ter se instalado naquela cadeira, dado uma de "joão-sem-braço" já que não entende nada de inglês e ninguém ousou tirá-lo de lá. E lá ficou, registrado na foto ao lado de Elizabeth II.
E, no capítulo de hoje, o que me provocou a gargalhada foi que eu imaginei um final feliz para ambos: com direito a beijinho no final. E, se os coleguinhas não vacilarem, cabe até um The End por cima.

domingo, 29 de março de 2009

Manhã no Parque

Tomei o café, acendi o cigarro, coloquei os óculos na ponta do nariz e abri o jornal. A manhã estava gostosa, cheia de verdes ao meu redor, o sol querendo aparecer e os passarinhos ciscando ao redor das mesas, na busca de farelos de pão.
- Oi, posso ler o jornal com você?
Como? Como assim? Ler o jornal comigo?
- É. É que eu achei muito bonito você ler o jornal.
Hein? Que é que é isso? Você quer uma parte do jornal, é isso?
- Não, eu não tenho o costume de ler jornal, sabe?, mas é que achei muito bonito.
Tirei os óculos, joguei-os sobre a mesa e encarei um rapaz com menos idade do que o meu filho, com os cabelos compridos e um boné enfiado na metade da cabeça.
- Posso me sentar?
Pode, com todo o meu espanto. Olhei de esguelha, de onde ele viera. Fora de uma mesa além da minha, onde havia outros dois rapazes e um litro de uísque com menos da metade. Olhei meu relógio: 8h15 da manhã. Viiiiiixê, seria uma balada emendada ou alcoólatras que costumam tomar café da manhã à base de uísque?
- Sabe, eu sou de livros, gosto de ler livros.
Sei. Quais?
- Ah, assim, Machado (íntimo... interessante)
Quem mais?
- Bem, outros, quaisquer outros, gosto muito de livros.
Sei.
- Você gosta de ler jornal, não?
Sim, como se pode ver, eu leio jornais.
- Eu não gosto não, mas, como disse, achei muito bonito. Me formei em publicidade, trabalhava na loja do meu pai e larguei porque quero seguir em algo na minha área.
Sei.
- Mas não gostei do curso, achei que não atendeu àquilo que eu queria, porque queria áudio-visual, sabe? Sou vidrado nisso. E você, o que faz?
Eu leio jornais, sou jornalista.
- E como é que se lê jornais?
Você está pedindo uma aula?
- Estou.
E quanto vai pagar por isso?, gargalhei.
- É que você tem jeito de professora. Desculpe eu perguntar, mas qual é a sua idade?
57 longos anos vividos. E nem assim o rapaz desistiu. Ficou naquele papo furado sem o menor sentido. Acendi outro cigarro e ofereci. Ele aceitou, dizendo:
- Eu não fumo, não. Mas vou fumar agora.
Ó, céus, o que é que essa incongruência aparentemente humana está fazendo na minha mesa?
Olha, essa parte do jornal eu já li. Leve para você, quem sabe você começa a gostar. Ah, tem quadrinhos, acho que faz mais o seu gênero. E agora, por favor, me deixe terminar de ler?
- Ah, claro!
Me deu um beijo, agradeceu pelo jornal e saiu, sem cambalear.
Isso foi uma cantada ou apenas uma bebedeira?
Fiquei sem saber. E não me incomodei mais com isso.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Raciocínio torto

Outro dia, uma amiga me disse: "seu blog não deveria se chamar casco-de-burro. Você é uma pessoa tão delicada (hã?????), tão atenciosa (hã????), tão gentil (hã??hã???). Casco-de-burro nos transporta para algo muito duro..."
Bom, não tenho de mim essa imagem de delicadeza. Muito pelo contrário, me acho bruta no trato diário. Luto para não enxergar apenas o meu umbigo. Procuro ver o dos outros, mas sempre caio naquela de que a minha dor de cabeça é muito mais importante do que o seu câncer, seja ele de quem for. Gentil? Não chegaria a tanto. Tento ser educada. Sempre tentativas.
De qualquer forma, o nome foi escolhido exatamente para dar essa primeira impressão de dureza e, até mesmo, sujeira (somos todos, em certo sentido, um pouco sujos, não?). Mas, se houver o cuidado de ler o que isso significa, no Aurélio, que eu copiei, está, com todas as letras: ver caldeirão. E caldeirão, que não é o sinônimo de casco-de-burro, é algo que também transporta para aquilo que eu pretendia(o) do blog: uma miscelânia de coisas perdidas, de opiniões sem importância, de desabafos de forma geral.
Ao ver caldeirão, está lá: na Bahia, significa "concavidade nos lajedos, da qual se retira os cascalhos, nesses casos quase sempre ricos". Aí, sim, caldeirão é sinônimo de casco-de-burro e a definição quase perfeita para aquilo que pretendo do blog: cascalhos, como pedaços de textos retirados da concavidade de minha cabeça e que, pretenciosamente, poderiam dar às pessoas algumas idéia que, se não ricas, ao menos que as façam pensar ou as distraem. Simples assim, apesar de complicado no raciocínio.
Mas, quem disse que era fácil? Nada, nada nesse mundo é fácil.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A velha foto

Quando é que a gente descobre que envelheceu, que o corpo já não mais obedece aos variados comandos que recebe? Pior ainda: reclama, o corpo reclama, silenciosamente, mas é infernal, porque não para. Parece mamãe, que fala sem parar, reclamando de tudo. Mas o corpo é o meu - não o dela que, aliás, diz, também reclama muito.
São as dores, as famosas dores do envelhecimento, como as manchas que vão aparecendo e cobrindo mãos, costas, pernas. Manchas escuras, claras, às vezes avermelhadas ou roxas, de pancadas.
Aí a gente olha aquela foto e não acredita na imensa mudança processada. Hoje eu sei muito mais do que sabia, naquela ocasião. Tenho muito mais experiência de vida, em todos os seus aspectos. Mas, na essência, me sinto a mesma. A foto diz a mim: nananina não! Não é mesmo. De que adianta ter as mesmas sensações, emoções, angústias, alegrias daquele passado que foi ontem e já não aguentar dois dias de faxina? Ou um chopp - um simples chopp - a mais?
Leio tudo sobre esse negócio de terceira idade, melhor idade, quarta idade. O povo vai inventando nomes mas a realidade é uma só: envelhecemos. Quase todos dizem a mesma coisa: é preciso aceitar as limitações impostas pela idade. E, aos poucos, ir mudando hábitos e costumes de então.
Tá. Parece fácil. Tente. Porque eu já conclui: envelhecer é uma merda.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Curtinha

Relapsa, me sinto relapsa com relação ao meu casco-de-burro. Não que me esqueça dele, mas há dias, como o de hoje, por exemplo, que me faltam temas - e há tantos que não consigo encontrar um, aquele que procuro.
Outros dias estou cansada, mas tão cansada que quero deitar meu corpo às 20h, pouco depois das galinhas. É porque também faço, quando necessário, serviço de pedreiro. Meto-me em tudo, à exceção de conserto de carro ou uma simples troca de pneu. Berro por socorro. Porém, dentro de casa, ah, sou auto-suficiente, para as grandes gargalhadas de minha empregada.
Pela manhã, ela chega e já vai perguntando: consertou a máquina de secar? Claro que consertei. E ela vai conferir: mas com durex? E solta aquela risada gostosa que me preenche o dia. Ao que eu respondo: e não me encha o saco, porque está funcionando e é isso o que interessa. Vamos ambas tomar o café e comentar os assuntos em comum: filhos, casa, saúde, violência, trânsito.
Como dizia, ai, que falta de assunto. E sei lá porque, hoje me deu na telha de começar antes mesmo do café e do jornal. Começar do nada - e olha que já deu uma historinha. Muito curtinha, mas vai ficar por isso mesmo.

domingo, 8 de março de 2009

O quê?

"Parabéns pelo Dia Internacional da Mulher, hein?!"
O que as pessoas, homens e mulheres, que assim cumprimentam a nós, querem dizer com isso? Para não parecer tão grossa e tão mal educada, dou um meio sorriso amarelo e agradeço baixinho, o mais baixo possível. Chego quase a baixar a cabeça e sair de mansinho, ocultando a minha vergonha.
Outras, pelo contrário, comemoram o dia com efusão. Conheço uma, em especial, que só falta pular de contentamente batendo palminhas de tanta felicidade! Isso ela não faz, mas presenteia a todas as conhecidas com bombons, balas, flores, bolos, pudins, manda bilhetes por e.mail, cumprimentos com cartões, enche a mesa do escritório com guloseimas as mais variadas e vai distribuindo durante todo o dia 8 de março de cada ano. Enfim, é um dia, para ela, em que se sente plenamente feliz, só por ser mulher.
Bem, eu me sinto feliz por ser mulher todos os dias. Mas o 8 de março, para mim, não é uma data de comemoração. Como explicar isso para tantas felicidades que encontro por aí?
Dá vontade de perguntar: você está me dando parabéns por 147 mulheres operárias norte-americanas que morreram queimadas um incêndio criminoso? Ou porque nessa data as operárias russas deflagaram uma greve geral que precipitou a revolução naquele país? Ou simplesmente porque a ONU instituiu esse dia como sendo o Internacional da Mulher?
E então complementar: o que você, mulher, está fazendo para enfrentar as desigualdades de gênero nas mais distintas áreas, principalmente no Brasil? O que você está fazendo para construir uma sociedade mais justa, que não precisasse de delegacias especiais para mulheres, tamanha a violência que sofremos em praticamente todos os aspectos, mas, principalmente, dentro de nossas próprias casas? O que você está fazendo para educar o seu filho sem lhe passar as manhas do machismo, a maioria das vezes arraigada em você mesma, que nem sequer se dá conta disso?
E você ainda quer comemorar?
O quê?

sábado, 7 de março de 2009

Perguntas. Alguém tem resposta?

"Para arcebispo, aborto é mais grave que estupro", explode a manchete da Folha de hoje. O estuprador, segundo ele, cometeu um pecado - para o qual basta se arrepender, confessar e pronto: vai pro céu, tá perdoado. À mãe e aos médicos, a excomunhão. Devem ir para o inferno, não? A menina, de nove anos, violentada desde os seis, então grávida de gêmeos, está perdoada porque "não tem discernimento".
A questão é simplória assim? Se não houvesse risco para a menina, o que ela faria com seus gêmeos? Brincaria de bonecas com eles, suponho. À Igreja não interessa sequer imaginar o futuro dessas três crianças, não bastasse o sombrio que rondará para sempre o dessa menina violentada. A família, então, ficaria imensamente feliz por estar cumprindo os desígnos de deus (deus quer, deus manda, além do imenso conformismo, é de uma ignorância revoltante). A mãe/avó embalando seus netos; o padrastro/pai/avô já se preparando para a próxima rodada (do primeiro, ele se arrependeu; mas pode se arrepender dos outros também, sem problema), e a mãe/criança não sabendo se troca as fraldas ou vai pular corda no quintal.
Pergunta maldosa, bem maldosa: o arcebispo, por acaso, está defendendo seus pares, aqueles mesmos que cometem abusos sexuais mundo afora e Brasil adentro?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A internet e a bunda

Sabe que eu gostaria de escrever?, me disse ela.
Escreva, uai!, voltando ao meu limite mineiro.
Hii, mas me falta tempo, essa vida, sabe como é, não?
Já houve tempo em que, do alto de minha arrogância juvenil, dizia que, para escrever, tinha de ser jornalista formada, com cartucho na mão e registro no MT. Caso contrário, argumentava, eu também poderia assinar e acompanhar obras como arquitetos ou talvez até receitar remédios como médicos. Radical assim. Aceitava que jogadores de futebol, arquitetos, médicos e todas as outras profissões pudessem escrever artigos - sobre suas respectivas áreas -, porém isso não os transformava em jornalistas.
Mas a internet chegou, Cazuza disse que o tempo não para (ai, que falta que me faz esse acento!!!), continuo achando que os nossos ídolos ainda são os mesmos, mesmo que os novos estejam aí, e capitulei. Escrevam, escrevam, que faz bem pra alma. Se somos jornalistas ou não, já não tem a menor importância.
Ainda hoje li sobre os problemas causados aos autores/jornalistas reconhecidos, que se veem mal reproduzidos em artigos/mensagens que circulam abundantemente na rede.
Ô, meu!, se você é capaz disso, de escrever algo que as pessoas gostam, e gostam tanto que enviam umas às outras, assine seu nome e pronto. Quem sabe você não vira também uma celebridade? Não é isso o que você quer?
Meu amigo Nassif, companheiro de "Penúltima", sempre que descobre o autor, manda processo em cima. Tá certo, ele.
Com ou sem talento, com ou sem diploma, a internet nos possibilitou a todos mostrarmos o que quisermos. Até a bunda, se isso lhe satisfaz. Mas assinada com o próprio nome embaixo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Eu, você e milhões

Como Danuza, eu também pulei, brinquei, cantei, suei, me fantasiei e fui muito, muito feliz em outros carnavais. Mas, nessa fase da vida, tudo isso não tem mais a menor importância. Às vezes, ligo a TV para dar uma espiada e refrescar a memória.
Hoje prefiro levantar cedo - contrariando todo o meu passado que pedia meu corpo na cama durante toda a manhã - pegar minha bicicleta, passar no posto de combustível, encher os pneus (o que faço direitinho) e pedalar até o parque, levando o jornal na cestinha que instalei.
"Quem usa cestinha é entregador", diz minha filha, categórica.
Dou de ombros.
Duas ou três voltas depois, paro para um café, as notícias impressas e o primeiro cigarro, ao som dos pássaros, de alguns latidos e à sombra das grandes árvores. À tarde, banho perfumado e um cinema quase vazio nessa São Paulo praticamente deserta.
Este deveria ser o meu carnaval deste ano de crise de 2009.
Como assim? O parque cheio? Essas pessoas não foram pular ou ver o Carnaval na avenida? Vou pedalando e olhando: vejos jovens sarados, outros nem tanto, uma porção bem grande de senhores e senhoras (não ouso dizer velhinhos, que estou quase lá...), crianças em suas bicicletinhas cor-de-rosa, bebês em carrinhos levados por mamães. Estão todos lá, andando, caminhando, correndo, de shorts, regatas, peitos masculinos à mostra, chapéus para sol. Somos tantos! Que bom, é um prazer ver pessoas fazendo seus exercícios, praticando esporte e compartilhando comigo a sem-importância do Carnaval de rua ou de salão.
Duas horas antes de o filme começar, com o livro debaixo do braço, chego ao cinema. A idéia, simples, era comprar o ingresso, tomar um outro café com outro cigarro e ler meu livro até a hora de entrada. Mas, fila. Ok, tudo bem, achei que a cidade estava quase vazia, mas pelo visto... Enfrentei 20 minutos para chegar na bilheteria e ouvir: só tem lugar na primeira fila do cinema.
O QUÊ? Faltam ainda pouco mais de 1h30 para começar a sessão! E já está lotado?
Foi então que me dei conta de que não sabemos quantos somos, mas que somos milhões, nessa cidade aparentemente deserta.
Amanhã eu volto. Quem sabe três ou quatro horas antes do início da sessão, para garantir o ingresso.
"Mãe, larga mão disso", ouço. "Entre na internet e compre já, caso contrário vai ficar chateada de novo".
Foi o que eu fiz.