quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A internet e a bunda

Sabe que eu gostaria de escrever?, me disse ela.
Escreva, uai!, voltando ao meu limite mineiro.
Hii, mas me falta tempo, essa vida, sabe como é, não?
Já houve tempo em que, do alto de minha arrogância juvenil, dizia que, para escrever, tinha de ser jornalista formada, com cartucho na mão e registro no MT. Caso contrário, argumentava, eu também poderia assinar e acompanhar obras como arquitetos ou talvez até receitar remédios como médicos. Radical assim. Aceitava que jogadores de futebol, arquitetos, médicos e todas as outras profissões pudessem escrever artigos - sobre suas respectivas áreas -, porém isso não os transformava em jornalistas.
Mas a internet chegou, Cazuza disse que o tempo não para (ai, que falta que me faz esse acento!!!), continuo achando que os nossos ídolos ainda são os mesmos, mesmo que os novos estejam aí, e capitulei. Escrevam, escrevam, que faz bem pra alma. Se somos jornalistas ou não, já não tem a menor importância.
Ainda hoje li sobre os problemas causados aos autores/jornalistas reconhecidos, que se veem mal reproduzidos em artigos/mensagens que circulam abundantemente na rede.
Ô, meu!, se você é capaz disso, de escrever algo que as pessoas gostam, e gostam tanto que enviam umas às outras, assine seu nome e pronto. Quem sabe você não vira também uma celebridade? Não é isso o que você quer?
Meu amigo Nassif, companheiro de "Penúltima", sempre que descobre o autor, manda processo em cima. Tá certo, ele.
Com ou sem talento, com ou sem diploma, a internet nos possibilitou a todos mostrarmos o que quisermos. Até a bunda, se isso lhe satisfaz. Mas assinada com o próprio nome embaixo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Eu, você e milhões

Como Danuza, eu também pulei, brinquei, cantei, suei, me fantasiei e fui muito, muito feliz em outros carnavais. Mas, nessa fase da vida, tudo isso não tem mais a menor importância. Às vezes, ligo a TV para dar uma espiada e refrescar a memória.
Hoje prefiro levantar cedo - contrariando todo o meu passado que pedia meu corpo na cama durante toda a manhã - pegar minha bicicleta, passar no posto de combustível, encher os pneus (o que faço direitinho) e pedalar até o parque, levando o jornal na cestinha que instalei.
"Quem usa cestinha é entregador", diz minha filha, categórica.
Dou de ombros.
Duas ou três voltas depois, paro para um café, as notícias impressas e o primeiro cigarro, ao som dos pássaros, de alguns latidos e à sombra das grandes árvores. À tarde, banho perfumado e um cinema quase vazio nessa São Paulo praticamente deserta.
Este deveria ser o meu carnaval deste ano de crise de 2009.
Como assim? O parque cheio? Essas pessoas não foram pular ou ver o Carnaval na avenida? Vou pedalando e olhando: vejos jovens sarados, outros nem tanto, uma porção bem grande de senhores e senhoras (não ouso dizer velhinhos, que estou quase lá...), crianças em suas bicicletinhas cor-de-rosa, bebês em carrinhos levados por mamães. Estão todos lá, andando, caminhando, correndo, de shorts, regatas, peitos masculinos à mostra, chapéus para sol. Somos tantos! Que bom, é um prazer ver pessoas fazendo seus exercícios, praticando esporte e compartilhando comigo a sem-importância do Carnaval de rua ou de salão.
Duas horas antes de o filme começar, com o livro debaixo do braço, chego ao cinema. A idéia, simples, era comprar o ingresso, tomar um outro café com outro cigarro e ler meu livro até a hora de entrada. Mas, fila. Ok, tudo bem, achei que a cidade estava quase vazia, mas pelo visto... Enfrentei 20 minutos para chegar na bilheteria e ouvir: só tem lugar na primeira fila do cinema.
O QUÊ? Faltam ainda pouco mais de 1h30 para começar a sessão! E já está lotado?
Foi então que me dei conta de que não sabemos quantos somos, mas que somos milhões, nessa cidade aparentemente deserta.
Amanhã eu volto. Quem sabe três ou quatro horas antes do início da sessão, para garantir o ingresso.
"Mãe, larga mão disso", ouço. "Entre na internet e compre já, caso contrário vai ficar chateada de novo".
Foi o que eu fiz.