terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Eu, você e milhões

Como Danuza, eu também pulei, brinquei, cantei, suei, me fantasiei e fui muito, muito feliz em outros carnavais. Mas, nessa fase da vida, tudo isso não tem mais a menor importância. Às vezes, ligo a TV para dar uma espiada e refrescar a memória.
Hoje prefiro levantar cedo - contrariando todo o meu passado que pedia meu corpo na cama durante toda a manhã - pegar minha bicicleta, passar no posto de combustível, encher os pneus (o que faço direitinho) e pedalar até o parque, levando o jornal na cestinha que instalei.
"Quem usa cestinha é entregador", diz minha filha, categórica.
Dou de ombros.
Duas ou três voltas depois, paro para um café, as notícias impressas e o primeiro cigarro, ao som dos pássaros, de alguns latidos e à sombra das grandes árvores. À tarde, banho perfumado e um cinema quase vazio nessa São Paulo praticamente deserta.
Este deveria ser o meu carnaval deste ano de crise de 2009.
Como assim? O parque cheio? Essas pessoas não foram pular ou ver o Carnaval na avenida? Vou pedalando e olhando: vejos jovens sarados, outros nem tanto, uma porção bem grande de senhores e senhoras (não ouso dizer velhinhos, que estou quase lá...), crianças em suas bicicletinhas cor-de-rosa, bebês em carrinhos levados por mamães. Estão todos lá, andando, caminhando, correndo, de shorts, regatas, peitos masculinos à mostra, chapéus para sol. Somos tantos! Que bom, é um prazer ver pessoas fazendo seus exercícios, praticando esporte e compartilhando comigo a sem-importância do Carnaval de rua ou de salão.
Duas horas antes de o filme começar, com o livro debaixo do braço, chego ao cinema. A idéia, simples, era comprar o ingresso, tomar um outro café com outro cigarro e ler meu livro até a hora de entrada. Mas, fila. Ok, tudo bem, achei que a cidade estava quase vazia, mas pelo visto... Enfrentei 20 minutos para chegar na bilheteria e ouvir: só tem lugar na primeira fila do cinema.
O QUÊ? Faltam ainda pouco mais de 1h30 para começar a sessão! E já está lotado?
Foi então que me dei conta de que não sabemos quantos somos, mas que somos milhões, nessa cidade aparentemente deserta.
Amanhã eu volto. Quem sabe três ou quatro horas antes do início da sessão, para garantir o ingresso.
"Mãe, larga mão disso", ouço. "Entre na internet e compre já, caso contrário vai ficar chateada de novo".
Foi o que eu fiz.

3 comentários:

  1. Eu era uma entre esses milhões. Achei que estava viajando. Eu tbem aqui sozinha. Meninas viajaram desde sexta.
    PARABENS pelo blog. Força ai na memória, que estórias com certeza são muitas. Por mal ou por bem, creio que somos privilegiadas pela infância e adolescência no interior. Muitas mangas, pitangas e tombos, muitos sapos dissecados, muitas serenatas, muitos bailes. A velha horta, do avô, os temperos, as ceias (q na verdade eu morria de dó de comer aquel cabrito, leitão depois de burlar avigilância e espionar.rsrs).
    Poxa prima, vai fundo, vai longe. Competência sei que você tem.
    SUCESSO
    Miriam Leguthe

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  2. Uma vez comprei ingresso de cinema pela internet e me disseram que tinha desconto promocional. Depois fui descobrir que os ingressos pela internet, com desconto, mais uma tal de taxa de conveniência, somavam mais do que o ingresso na porta do cinema. E tive de pegar fila. Ou seja, paguei mais, passei nervoso e foi mal negócio.

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  3. Cade o post da filha chata? Tinha adorado...

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