Adoro palavras. A ponto de amá-las (como beija-flor) ou odiá-las (como espingarda). Consequentemente, adoro frases bem feitas, espirituosas, bem ou mal humoradas. E invejo intensamente, como passional que sou, aqueles que têm o dom de formulá-las.
Acho que Nana Caymmi mereceria constar de ao menos um livro dessas frases famosas eventualmente publicados por aí. É ela a autora da que dá título a este texto.
Que me perdoem, mas muito mais do que sua voz ou sua interpretação, gosto é do seu palavreado sem fronteiras e extremamente ácido, com os outros e, principalmente, consigo mesma. Vejam o contexto de onde brotou essa pérola:
"Não foi fácil enterrar pai e mãe, ficar fazendo footing no cemitério. Pensei: 'vou sentar aqui para ver se tem mais um freguês'. O coveiro já estava me beijando"(Ilustrada, Folha SP, 20/04/09).
Já tive grandes discussões com Vicente Alessi, meu colega que não perdoa o reacionarismo de Nelson Rodrigues, por quem, tardiamente, me apaixonei. Sim, ele é reacionário. E eu tive a pachorra de ler toda - TODA - a sua obra, da qual meu amigo Vic foge como o diabo da cruz. Na minha modesta (?) opinião, acima de seu reacionarismo, estava a defesa incondicional da vida humana e, na dramaturgia, a busca do escatológico do ser humano, no sentido de nos alertar para a existência dessa possibilidade em nós mesmos. Minto: não li TODA a sua obra: não consegui suportar os folhetins assinados por Mirna e Suzana Flag, nos quais se morre, literalmente, por amor. Também não posso afirmar que tenha gostado de tudo o que ele escreveu e que tenha concordado com a maioria de suas peças, opiniões e crônicas diárias.
Porém, como frasista, ele foi insuperável. Divirtam-se com algumas, politicamente incorretas ou não:
Invejo a burrice, porque é eterna.
Sou sóbrio por vocação, destino e desgraça.
Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo. (Mais atual, impossível!)
O casamento é divertido como um túmulo.
Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
Meus diálogos são realmente pobres. Só eu sei o trabalho que me dá empobrecê-los.
Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.
A família é o inferno de todos nós.
Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos.
Qualquer indivíduo é mais importante do que toda a Via Láctea.
A inteligência pode ser acusada de tudo, menos de santa.
Acho a liberdade mais importante do que o pão.
Não acredito em brasileiros sem erro de concordância.
O homem é mais fiel ao seu ódio do que ao seu amor.
Nossa vida é a busca desesperada de um ouvinte.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
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