quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Calafrios

Gripei.
Quer coisa pior?
Ainda não sei o que é um câncer e a tal quimioterapia, nem tive uma pedra nos rins, cuja dor, dizem, é similar ao parto. Como já me esqueci das minhas duas dores do nascimento de meus filhos, posso afirmar que, para mim, não há nada pior do que a gripe.
Mal-estar generalizado, um corpo que eu gostaria de esfarelar aos poucos e deixá-lo descansando num cantinho da casa, para depois varrê-lo de vez para fora, numa ressaca congestionada - do nada.
A cabeça pesa. Será a inteligência aumentando seu volume? Mas me sinto tão embotada que muito provavelmente é a burrice que pesa. Fico assim, numa brincadeira de balanço com minha própria cabeça, num vai e vem que, espero, acalentador, espiando os minutos esvairem-se entre os dedos enquanto uma carência avassaladora toma conta do meu ser. Quero mamãe! Ao mesmo tempo em que formulo esse pensamento, percebo que o racional escapuliu pela janela.
É uma simples gripe, repito a mim mesma. Levanto-me corajosamente, com as pernas bambas, acendo um cigarro, sinto a dor da fumaça passando pela garganta irritada, e pego o relatório sobre a mesa. Preciso terminá-lo antes do almoço. (31.05.90)

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