sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Parabéns a você

- Ah, vamos, vá!
- Ah, não, só me faltava essa, agora!...
- Não temos nada o que fazer hoje, está um solzinho gostoso, vamos, vá! É apenas um programa diferente para uma tarde de domingo.
- Na minha opinião, um pouco mórbido demais. Você vai mesmo cantar parabéns?
- Ué, por que não? Qual é o problema? É a data do aniversário...
- Mas não tem sentido, não é, meu bem? É ridículo.

Um vaso com crisântemos amarelos, já meio velhos. Duas rosas escarlates, bem frescas, num buraco com água, direto no chão. Um cravo branco isolado, provavelmete roubado de algum defunto fresco, meio sem cabo, perdido entre os botões de rosas. Uma vela apagada.

- Ela está ali?, perguntou o menino com o dedo apontado para além da placa no chão.
- Não, meu filho. Você está pisando exatamente sobre a barriga dela.

Pulou para trás. Saiu rapidinho da grama. Aproxima-se um casal de idosos.

- Pois é, tanta gente gostava dela e hoje não tem ninguém aqui, né?, puxou conversa o senhor. Da próxima vez, trarei flores.
- Bem que eu queria ter trazido, ou comprado ali na entrada. Mas meu marido não deixou. Disse que era muita coisa pra cabeça dele, já bastava o fato de estar aqui...
- Outro dia tinha uma mensagem comovente, emocionante mesmo, aí no chão. Era de uma pessoa que estava pedindo desculpas a ela.
- É mesmo? Por que?
- Não deu para ler direito porque ele colocou a carta dentro de um plástico, mas choveu, a água entrou e borrou quase tudo. Acho que ele tinha feito alguma coisa que a prejudicou, estava arrependido e pedia desculpas. Bonito isso, mesmo passado tanto tempo.
- Mamãe, o papai está chamando.
- Parabéns a você, nessa data querida.

Apenas esse verso, que o outro não faz mais sentido. E saiu pisando firme na grama.

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